Por Daniel Keller

Consultor e mentor empresarial, palestrante e facilitador de workshops e capacitações. Pós Graduado em Neurociência e Educação, Pós Graduado em Neuromarketing e Pós Graduado em Gestão de pessoas. Autor do livro “Antes de tudo, as pessoas – Inspirações, reflexões e provocações sobre o desenvolvimento de pessoas e negócios”.

 

É bem provável que todos nós já tenhamos ouvido a expressão que nos pergunta se queremos algo como emoção ou sem emoção, fazendo alusão ao grau de aventura e até mesmo de risco envolvido em alguma atividade. Mas quando falamos de negócios, será que há espaço para falarmos de emoção? Mesmo se não quisermos reconhecer a presença das emoções, lá estão elas, influenciando a mudança de comportamento do cliente, impactando o envolvimento e pertencimento das equipes e especialmente, agitando o humor do mercado a cada vez que um novo prognóstico para o futuro é apresentado. Ou seja, é inegável que as emoções estão presentes em qualquer direção que coloquemos nosso olhar, inclusive, sendo muitas vezes a grande protagonista da nossa tomada de decisões e comportamentos diários.

Gosto muito da linha de raciocínio do Neurocientista português Antônio Damásio, que propõe uma hierarquia a respeito do nosso comportamento, colocando instinto e emoção numa prateleira de maior destaque, nos fazendo refletir como usamos pouco a razão para balizar nossos comportamentos. Não é pela razão que pessoas correm para supermercados para se abastecer de itens que sequer consomem habitualmente, quando há o mínimo rumor de algum desabastecimento. Não é pela racionalidade da remuneração que as pessoas estão trocando de trabalho. Tampouco, é pela racionalidade e objetividade dos números e informações que os mercados estremecem.

Por trás das transformações que o mundo passa, estão as emoções, influenciando de forma decisiva pessoas e empresas sentem, agem e reagem a tudo que acontece. A emoção medo, misturada com o instinto de sobrevivência, empurra as pessoas para o consumo exacerbado em momentos específicos de possível restrição. A insegurança, gerada pela pouca clareza nos papeis nos times e a baixa cultura de existir conversas francas entre as pessoas, colocam em xeque a decisão de alguém permanecer ou não no seu atual trabalho. E ainda, há que se considerar, que as especulações das notícias têm maior poder emocional de nos deixar eufóricos ou desacreditados com o futuro do que a racionalidade das evidências que estão à nossa frente.

Confiança X Investimento

Certa vez, ouvi sobre uma dúvida a respeito do comportamento do mercado que compartilho com vocês. Será que a confiança aumenta quando existem investimentos ou os investimentos aumentam quando existe confiança? Quem vem primeiro? É bem provável que a confiança, como manifestação emocional positiva é quem exerce maior e primeira influência. Primeiro alguém acredita, e influencia emocionalmente outros para que se envolvam e acreditem nas mesmas coisas. E aí, um grande ciclo virtuoso pode acontecer e impactar inclusive índices, números e resultados, que são produtos racionais de um negócio. As emoções são direcionadoras do humor e da pré-disposição para enfrentarmos os desafios que toda empresa tem, inclusive, de fazer frente ao que está fora do nosso controle.

Costumo dizer que a capacidade interna que uma empresa possui de mobilizar de forma sinérgica sua estratégia, tática e operação em prol dos seus objetivos é maior do que a capacidade de ser impactada por cenários que estão fora do seu controle. Mas isso só é possível, se estivermos maduros emocionalmente, vibrando numa mesma sintonia, não permitindo que o “calor das coisas” abafe nossa capacidade de pensar – de integrar de forma suave as emoções com o intelecto. Do contrário, ao menor sinal de cenário em descompasso com a nossa expectativa, ganhamos o elemento emocional perfeito para não fazermos a nossa parte. A justificativa do insucesso está pronta, e melhor, não depende de nós. Terceirizamos nossos resultados e dormimos imunes a dor emocional da falha. Afinal, a culpa é do mercado, do cenário político, econômico ou do concorrente, aparentemente elementos racionais no jogo diário dos negócios.

Emoção negativa

Já vivenciei situações em que resultados e números foram apresentados em diferentes estados emocionais das pessoas. Num momento de predominância de “emoções negativas” (fruto até de contextos externos ao negócio), um pequeno deslize de performance, com baixo impacto no resultado foi tratado com dura mão e se transformou na conhecida “tempestade em copo d´água”. Em contrapartida, outras situações em que o resultado ficou muito aquém do esperado ou ocorreu um erro de alta repercussão, o “estado emocional positivo” do momento tratou de apaziguar os ânimos. Ou seja, o contexto emocional no qual a empresa está inserida é preponderante para determinar como uma empresa age e reage ao que lhe acontece, com capacidade inclusive de alterar apercepção da realidade.

Pragmatismo e objetividade

Falar tanto de emoções nos negócios significa que é hora de abandonarmos o pragmatismo e objetividade dos números e da racionalidade de uma gestão por resultados? De forma alguma, mas quem sabe seja tempo de reconhecermos que emoção e razão andam juntas, uma retroalimentando a outra. Entendo que a racionalidade dos resultados e metas que buscamos alcançar precisa muito da inspiração e da energia emocional, e isso, vem das pessoas. Ou seja, se quisermos dar sustentabilidade para um negócio, precisaremos trazer conosco as pessoas – com clareza do porquê trabalham e inspiradas pela transformação que o trabalho pode gerar para si e para os outros. Precisaremos dar atenção a cultura da empresa, que nada mais é do que os elementos que norteiam a manifestação emocional das pessoas no dia a dia. A cultura é um referencial sobre como as pessoas que fazem parte da empresa pensam e agem – é quase um termômetro emocional para os dias que a dúvida sobre como proceder bate a nossa porta.

Mas acima de tudo, precisamos que os líderes nas empresas passem a considerar o fator emocional como algo relevante. Não por obrigação, por modismo ou como prática de endomarketing em momentos pontuais, mas sim, como elemento indissociável e elementar de relações que são essencialmente de pessoas para pessoas. Não importa se falamos de clientes, parceiros, fornecedores ou do próprio time. São pessoas, movidas por um cérebro altamente emocional que fazem a transformação nos negócios e no mundo acontecer e o estado emocional das lideranças, manifesto em suas práticas e comportamentos diários diz muito sobre como uma empresa enfrentar seus desafios. O estado emocional das lideranças indica como as pessoas vão se portar quando as coisas vão bem ou quando precisam mudar.

Participação ativa

Daqui para frente, quando você for perguntado novamente se quer algo como ou sem emoção, lembre-se, elas estão ali, participando ativamente da forma como vemos e nos relacionamos com o mundo. É nosso papel aprendermos a equilibrar as emoções, tirando o melhor proveito de cada uma delas. O professor Daniel Goleman, referência em inteligência emocional fala que “emoções fora do controle fazem de pessoas espertas, estúpidas”. Ou seja, as empresas também podem se comportar de forma estúpida pelo coletivo desequilíbrio emocional das pessoas. Por isso, sentir, falar e vivenciar as emoções é tão importante, para que mais conscientes, possamos potencializar mudanças a partir do amadurecimento emocional. Isso permite que medo seja transformado em preparação para enfrentar o desconhecido. Que raiva seja sentida, mas rapidamente se se torne energia canalizada em forma de mudança para não repetir os mesmos erros. E especialmente, que abramos espaço para a alegria nas empresas, para reconhecer e celebrar as pequenas vitórias diárias e ganhar fôlego para seguir em frente.